
O que parecia ficção em 2013 hoje se aproxima perigosamente da realidade. No filme Her, Theodore, um homem solitário, desenvolve um relacionamento com um sistema operacional dotado de inteligência artificial. Em plena era das conexões instantâneas, o que Her retrata com sensibilidade é, na verdade, o sintoma de uma epidemia silenciosa: o isolamento emocional e a busca por afeto em experiências artificiais.
Neste Dia dos Namorados, o longa serve menos como inspiração e mais como um alerta. Estamos mesmo substituindo as relações humanas por vínculos virtuais?
Solidão, ansiedade e o afeto de mentira
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que a solidão é uma ameaça crescente à saúde pública. Em 2023, a instituição declarou que o sentimento de isolamento social pode ser tão prejudicial quanto fumar 15 cigarros por dia. A saúde mental está no centro da discussão: relações artificiais — mesmo quando oferecem conforto momentâneo — não substituem o impacto positivo das conexões humanas verdadeiras.
Estudo afirmar que pessoas que substituem vínculos sociais por interações com tecnologias (como assistentes virtuais e bots de conversa) tendem a apresentar níveis mais altos de ansiedade social, perda de habilidades interpessoais e dificuldades para lidar com frustrações reais.
Psicólogos destacam que a tecnologia tem papel ambíguo. Podendo tanto ser ponte, quanto barreira. Quando alguém prefere conversar com uma IA a lidar com a imprevisibilidade das relações humanas, o que temos é um mecanismo de defesa. Só que isso não promove crescimento emocional. Pelo contrário, fragiliza ainda mais o indivíduo.
Relacionamentos artificiais já são realidade
O fenômeno retratado em Her (2013) já saiu das telas. No Japão, por exemplo, milhares de pessoas declaram ter relacionamentos afetivos com personagens virtuais. Empresas como a americana Replika já oferecem companheiros virtuais baseados em IA, programados para conversar, oferecer apoio emocional e até "dizer que amam".

No Brasil, o uso do app Replika teve aumento expressivo durante e após a pandemia. Usuários relatam conforto nas conversas com esses sistemas, que são criados para responder com empatia e reforçar positivamente qualquer interação. Mas há controvérsias: o mesmo algoritmo que acolhe também pode reforçar a fuga da realidade, promovendo uma dependência emocional de uma entidade que, no fim, não é real.
O risco de desaprender a amar
Amar alguém é lidar com frustrações, diferenças e imprevistos. É exatamente essa complexidade que os vínculos artificiais eliminam — mas a um custo alto. Relações reais nos ensinam empatia, tolerância e construção mútua. Quando um indivíduo escolhe uma relação onde tudo gira em torno de suas necessidades e controle, ele perde a chance de se desenvolver emocionalmente.
Além disso, o contato humano ativa regiões cerebrais associadas ao bem-estar, como os circuitos de recompensa e o sistema oxitocínico. Um estudo da Universidade de Harvard, que acompanha pessoas há mais de 80 anos, aponta que a qualidade dos vínculos humanos é o fator mais determinante para a felicidade e a longevidade.
Amar continua sendo humano
Em um mundo que nos empurra para relações rápidas, fáceis e, por vezes, solitárias, Her nos lembra que o afeto pode ser simulado — mas não substituído. Nenhum algoritmo conhece a complexidade do toque, do olhar, do silêncio compartilhado.
Neste Dia dos Namorados, mais do que celebrar o amor romântico, talvez seja hora de valorizar o que ainda nos torna humanos: a capacidade de sentir de verdade, mesmo que isso envolva riscos, dores e imperfeições. Porque é justamente nisso que mora a beleza do amor real.
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